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domingo, 29 de novembro de 2009

BRINCANDO COM A LÍNGUA


Numa conversa com uma amiga, eu, como estudante de letras, pronunciei em praça pública a expressão “jogos linguísticos”, sem perceber que havia um rapaz passando do nosso lado e que ao ouvir se manifestou imediatamente: “Obaa!”. Vocês como bons brasileiros com certeza não tiveram nenhuma dificuldade para compreender o que passou pela cabeça desse sujeito não é verdade? Com certeza foi: “Nossa, essa faz até jogos linguísticos.” Sim porque é incrível a capacidade que nós brasileiros temos de dar novos sentidos às palavras, principalmente quando elas nos dão condições para relacioná-las a sexo.

Não pensem vocês que estou criticando essa capacidade brasileira, muito pelo contrário, mesmo porque eu também sou brasileira e faço isso o tempo todo e acho o máximo, penso que o politicamente incorreto relacionado ao humor é uma das melhores coisas, pois por alguns instantes conseguimos fugir dos problemas que a vida nos traz.

O que me trouxe inspiração para escrever sobre o sentido das palavras foram duas crônicas fantásticas do Mário Prata: “Extravagância” e “Escatológica crônica bizarra”, afinal, “Nada se cria, tudo se transforma.” Não é verdade?, nesses dois textos ele nos chama atenção para essa capacidade de atribuirmos novos sentidos aos vocábulos, colocando como exemplo o termo bizarro que atualmente é utilizado como algo estranho/esquisito, porém o dicionário nos descreve inicialmente uma pessoa elegante, bem apessoada e só no final ele dá uma colher de chá para o seu significado atual, se alguém me chamar de bizarra eu nunca vou entender como um elogio, apesar de haver essa possibilidade. Acredito que hoje em dia ninguém entenda como algo positivo e com base nisso fiz um teste com um colega de trabalho, eu olhei para ele e disse: “ nossa! hoje você está bizarro hen!” E ele me respondeu que era porque ele não teve tempo de pentear os cabelos. Coitado! ( No sentido atual tá?).

No final da crônica “extravagância” o autor pede para refletimos um pouco sobre “enfezado e coitado”, então vamos lá. Enfezado é uma pessoa cheia de fezes, é isso mesmo que o dicionário nos ensina, bizarro né? E a palavra coitado, vem de coito, que é o rompimento do ato sexual para não gerar filhos e há quem afirme que antigamente era atribuída aos indivíduos que sofriam violência sexual. Coitados! (literalmente). Vocês conseguem perceber o quanto esses termos sofreram mudanças de significado com tempo? Pois é, isso é uma prova de que a nossa língua é uma coisa viva e nós somos os responsáveis pelas suas mudanças de sentido.

Agora eu peço que vocês queridos leitores façam uma reflexão sobre “candidato”, penso que esse sim sofreu uma extrema mudança, chegando a ser o antônimo da sua origem.

Carla Lucatto

Um comentário:

  1. Adorei o texto... só tem que cuidar cuidado com o título ("Brincando com a língua..." ui rs)

    Realmente, nós somos responsáveis pela mudança de sentido das palavras e não nos damos conta disso... Daqui a um tempo quando atualizarem os dicionários vão ter que acrescentar novos significados como exemplo a palavra "Mina"... vai ser uma loucura só... rs

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