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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O poeta do ônibus


Saí de manhã para trabalhar um dia desses e recebi uma poesia, achei incrível e digna de nota. Era uma manhã conturbada, quase sempre o ônibus está lotado e não há lugar para sentar, mas com isso eu já me acostumei, o que alivia um pouco a situação são pessoas gentis que se dispõem a segurar nossas coisas durante o percurso. Quase sempre encontro um senhor que me faz essa gentileza e, como esse ato se tornou diário, ele começou a conversar comigo, e em umas das conversas me confessou que era poeta e se dispôs a fazer uma poesia para mim, caso eu quisesse. Eu disse que ele poderia fazer com certeza e ele fez mesmo.


Alguns dias depois ele me entregou a tal poesia que quando terminei de ler, depois de rir muito, pensei na possibilidade de refletir “sociolinguisticamente” sobre aquele fato, mas não tinha como, acredito que nem mesmo os sociolinguistas defendem aquele tipo de ortografia, eu nunca vi tantas "inadequações" à variante culta do português na minha vida, vocês precisam ler... Para vocês terem uma ideia do conteúdo da poesia citarei alguns trechos fantásticos: “Poezias para uma pesoua”, “me perdoi çir eu estou erado”, “ o jardim do ceu quintal”, “ não cepreocupe”, “medescurpe” e o melhor, quando termina uma parte da folha ele escreve “por-favor vire o papel” , ele pensou que eu fosse fazer o quê? Esses são só alguns problemas, pois a carta inteira ele escreve desta forma.


A primeira impressão que tive ao terminar de ler aquela “poesia” foi de algo muito engraçado, eu morri de dar risada, aquilo era bizarro e penso que esta é a primeira impressão da maioria das pessoas que leem, mas esta uma questão muito séria se formos analisar em que nível de educação nós estamos, isso é uma prova do analfabetismo que há no nosso país, pois com certeza ele não é o único a escrever dessa maneira, isso é muito triste. Apesar de no final da carta ele pedir desculpas por ter pouco conhecimento - ele chama isso de “leitura fraca” - eu fico imaginando o que levou essa pessoa a acreditar que é poeta e qual será seu conceito sobre poesia, eu confesso que tem alguns traços poéticos na forma de se expressar quando ele fala de rosas, de jardins etc, mas sinceramente ainda não consigo ver como poesia, talvez preciso estudá-la mais profundamente.


Eu fico pensando em até quando ele vai escrever essas coisas acreditando que é poesia, porque sinceramente eu não tenho coragem de dizer para ele o que realmente penso, eu disse que gostei muito, porém sinto muito pela minha atitude mentirosa movida pelo sentimento de pena.
Carla Lucatto

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