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domingo, 29 de novembro de 2009

A VIDA É COMO UM RÁDIO FM


Mexendo num CD antigo de backup dos arquivos do meu computador, encontrei uma conversa de MSN salva, um pouco antiga, pelo menos de uns quatro anos atrás, cujo título era: Conversa Filosófica. Logo me lembrei do momento em que ocorreu o chat em questão, foi uma conversa que eu tive com um grande amigo, quando ambos estavam terminando o ensino médio; falávamos sobre essa nova vida que estava por vir, a escolha de uma faculdade, o ingresso no mercado de trabalho, responsabilidades... Coisas que “gente grande” faz, sabe? Dúvidas, aflições, ansiedade que dois jovens de dezessete anos compartilhavam.


Ao longo da conversa meu amigo, amante de rock, levantou uma reflexão de que jamais me esqueci, era a seguinte: a vida deveria ser como um CD, as músicas mais belas ou as nossas músicas favoritas, seriam os nossos bons momentos, aí quando as coisas não estiverem legais, é simples, basta você querer e voltar aos bons tempos e deixar rolar o quanto desejar, assim como fazemos com as nossas músicas prediletas, criamos a seleção, colocamos para tocar horas a fio, cantamos com elas, dançamos e viajamos... Eu adorei a comparação, quem me dera pode voltar e reviver todos os acontecimentos de alegria, poder voltar aos momentos em que estive com pessoas de quem eu gosto, seria perfeito! Eu faria com as tristezas e com os infortúnios da vida o que eu faço com as músicas que eu não gosto, simplesmente os pularia.


Mas no meio da conversa cheguei à conclusão de que ainda bem que a vida não igual a um CD. Já pensou como seria viver sempre a mesma coisa? Chegaria um momento em que estaríamos exauridos de tanta felicidade, seria tanta mesmice que nada mais causaria emoção.


A vida de fato é como um rádio FM, a música que irá tocar é uma incógnita, vamos ouvir as prediletas sim, com certeza, mas também virão músicas novas, diferentes e às vezes tocarão aquelas de que não gostamos e iremos ouvi-las também, quem sabe a próxima não será a canção perfeita? E quando ficar difícil, e só tocar as ruins, basta mudar de estação, tem tantas outras para escolher... É claro que nenhuma delas será composta apenas de músicas perfeitas, e nem sempre ficar mudando vai resolver os seus problemas, a música favorita pode tocar naquela estação em que você estava, mas mudou enquanto passava a música que você não gosta; às vezes é preciso paciência e calma.

Bem, essa foi a conversa filosófica e a comparação que mais me faz refletir sobre a vida. Hoje meu amigo, eu e nossos outros amigos vivemos nessa “Terra de Gigantes” e nesse “Mundo que Anda Tão Complicado”, e acredito que todas as músicas que tocam em nossos radinhos contribuem para o nosso crescimento, seja pessoal ou profissional, e que bom que a vida é um rádio FM!!

Érika Diamantino Mota

BRINCANDO COM A LÍNGUA


Numa conversa com uma amiga, eu, como estudante de letras, pronunciei em praça pública a expressão “jogos linguísticos”, sem perceber que havia um rapaz passando do nosso lado e que ao ouvir se manifestou imediatamente: “Obaa!”. Vocês como bons brasileiros com certeza não tiveram nenhuma dificuldade para compreender o que passou pela cabeça desse sujeito não é verdade? Com certeza foi: “Nossa, essa faz até jogos linguísticos.” Sim porque é incrível a capacidade que nós brasileiros temos de dar novos sentidos às palavras, principalmente quando elas nos dão condições para relacioná-las a sexo.

Não pensem vocês que estou criticando essa capacidade brasileira, muito pelo contrário, mesmo porque eu também sou brasileira e faço isso o tempo todo e acho o máximo, penso que o politicamente incorreto relacionado ao humor é uma das melhores coisas, pois por alguns instantes conseguimos fugir dos problemas que a vida nos traz.

O que me trouxe inspiração para escrever sobre o sentido das palavras foram duas crônicas fantásticas do Mário Prata: “Extravagância” e “Escatológica crônica bizarra”, afinal, “Nada se cria, tudo se transforma.” Não é verdade?, nesses dois textos ele nos chama atenção para essa capacidade de atribuirmos novos sentidos aos vocábulos, colocando como exemplo o termo bizarro que atualmente é utilizado como algo estranho/esquisito, porém o dicionário nos descreve inicialmente uma pessoa elegante, bem apessoada e só no final ele dá uma colher de chá para o seu significado atual, se alguém me chamar de bizarra eu nunca vou entender como um elogio, apesar de haver essa possibilidade. Acredito que hoje em dia ninguém entenda como algo positivo e com base nisso fiz um teste com um colega de trabalho, eu olhei para ele e disse: “ nossa! hoje você está bizarro hen!” E ele me respondeu que era porque ele não teve tempo de pentear os cabelos. Coitado! ( No sentido atual tá?).

No final da crônica “extravagância” o autor pede para refletimos um pouco sobre “enfezado e coitado”, então vamos lá. Enfezado é uma pessoa cheia de fezes, é isso mesmo que o dicionário nos ensina, bizarro né? E a palavra coitado, vem de coito, que é o rompimento do ato sexual para não gerar filhos e há quem afirme que antigamente era atribuída aos indivíduos que sofriam violência sexual. Coitados! (literalmente). Vocês conseguem perceber o quanto esses termos sofreram mudanças de significado com tempo? Pois é, isso é uma prova de que a nossa língua é uma coisa viva e nós somos os responsáveis pelas suas mudanças de sentido.

Agora eu peço que vocês queridos leitores façam uma reflexão sobre “candidato”, penso que esse sim sofreu uma extrema mudança, chegando a ser o antônimo da sua origem.

Carla Lucatto

Catar feijão


Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebra dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.

João Cabral de Melo Neto