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terça-feira, 29 de junho de 2010

Meu adorável ogro



Dia desses eu e minha amiga divagávamos sobre o “cara ideal”, mas é importante dizer que nem eu e nem ela somos pessoas muito “normais”. Saliento que nossa sensibilidade e criatividade são bem superiores aos nossos rompantes racionais.
Nos aspectos físicos, ela admira os caras grandes daqueles tipo Conan, He-man ou o Leôncio do Picapau, de preferência loiros ou ruivos e bem brutamontes.
Eu tiro o maior sarro desse gosto bizarro, porém o fato é que ela possui o “clique do ogro”, esse insight me veio ao questionar os tipos complicadinhos que atraio.
Esse negócio de se interessar pelos fofos, educados e inteligentes (às vezes nem tão inteligentes assim) me fez perceber que não há nada de fantástico que um cara sensível se apaixone e mande flores, pegue na sua mão com delicadeza¸converse com você ou escreva belas palavras.
Afinal, esse sujeito faz as unhas, está sempre cheiroso, não é louco por sexo, vê filmes (e entende), chora e repara no seu cabelo ou no seu pé. Vamos combinar? Esse cara é quase uma MULHER! Qual a vantagem desse bofe-poodlle? Se você engordar ele vai perceber, provavelmente ele tem algum tipo de transtorno obsessivo-compulsivo o que faz dele tão maluco e temperamental quanto você.
Bonito mesmo é o casca- grossa procurando um presente feminino para te agradar ao máximo (mesmo que ele esteja morrendo de vergonha disso) ou escrevendo uma carta de amor toda rasurada com seus garranchos aramaico-hieroglificos.
Tá aí a solução! Ao invés do príncipe encantado (uma versão desatualizada do metrossexual) do nerd ou do bicho-grilo temos que começar a sonhar com o ogro, porque nada é mais romântico do que ver uma fera transformada a serviço do incondicional sentimento que nutre pela amada.



Thaís Renata de Lima

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Crônica do além


Em uma segunda feira, voltando da faculdade, eu conversava com uma amiga sobre o filme do Chico Xavier, que por sinal é um filme maravilhoso, e devo recomendá-lo a vocês.
Ela me dá carona todas as segundas feiras, e como a conversa se estendeu, ficamos um pouco dentro do carro em frente à minha casa para concluirmos a discussão; falávamos o tempo todo sobre o espiritismo de Allan Kardec, as psicografias do Chico Xavier (por quem devo confessar aqui a minha extrema admiração) e as teorias relacionadas ao plano espiritual.
Conversávamos tranquilamente, até que ela me olhou com uma cara de assustada e disse:
_ Espera aí, e aquela galera ali?
Eu olhava para frente e para os lados e não via nada, e ela continuava:
_ Tem uma galera vindo para cá!
Eu continuava sem ver ninguém, e isso começou a me deixar preocupada, por um instante eu pensei que estivesse brincando e queria me assustar, mas sua expressão me fez perceber que não era brincadeira, então eu pensava: (Meu Deus, a mulher acabou de descobrir a mediunidade e está vendo espíritos desencarnados, e não é um só, não, é uma galera! O que eu vou fazer?)
Eu me assustei de verdade, já eram umas 11 horas da noite, o que contribuiu muito para o meu pânico, porque uma coisa é saber da existência desses seres na teoria, na prática é completamente diferente. Fiquei tremula, sem ação, quase não falava nada, e o pior é que ela também não se manifestava, apenas olhava fixo para frente, e o meu pavor aumentava a cada segundo.
Toda aquela teoria que existia na minha cabeça referente a plano espiritual foi por água abaixo, o medo tomou conta da minha mente.
Foi quando ela me disse que estava vendo pelo retrovisor interno um grande grupo de pessoas que subia a rua, quando eu olhei era só um pessoal que voltava da igreja, pois alguns estavam com a bíblia nas mãos, nossa que alívio!
Imaginem a cena, eu quis matá-la!
E depois passei a refletir sobre o poder que a nossa mente tem para interpretar as coisas de acordo com a situação que estamos vivenciando, sim, porque se ela tivesse me falado isso em qualquer outra ocasião, não teria imaginado nada, soaria completamente normal; iria perguntar de onde vinha essa tal galera e assunto encerrado, mas o assunto me permitiu pensar que ela havia aflorado sua mediunidade em instantes de conversa.
E também não posso deixar de comentar aqui que o medo que nós temos do sobrenatural é uma coisa impressionante, mesmo quando compreendemos um pouquinho da doutrina espírita de Allan Kardec.
Vai me dizer que você nunca teve medo dessas coisas?
Carla Lucatto

sábado, 15 de maio de 2010

Acaso e descaso


Dizia certo homem: Deus, faz com que chova em nossa cidade, pois o nível dos rios está muito baixo e a chuva tem demorado de vir; sem considerar que quando vem é aquela destruição!
Em uma cidadezinha do Interior, vivia Augusto, homem trabalhador e como trabalhava...
Possuía um comércio de carros e viajava de mais, estava acostumado a passar por diversas cidades em seus caminhos. Em uma manhã de intenso calor e falta de chuva, comentava com sua família:
- Do jeito que as coisas estão indo, teremos que nos mudar desse lugar!
No momento do café da manhã, tocou o telefone; era um funcionário avisando que a frota de carros sairia da cidade às 13h00min. Simultaneamente ao telefonema na televisão da sala passava na Rede Cultura de Televisão uma reportagem sobre Desequilíbrio Ambiental, questões como: desmatamento, contaminação de rios e principalmente poluição do ar ligada ao Aquecimento Global.
Se despedindo da mulher e dos filhos, aqueceu o motor do carro que usava para trabalho, um Del Rey com motor fumando um pouco (queimando óleo), afinal a cidade não era muito longe e ele possuía dinheiro suficiente para o conserto se acaso quebrasse. Assim, seguiu destino...

Thiago Sodré

sábado, 17 de abril de 2010

As duas faces da maçã




Malus
Uma virgem pode convencer toda uma cultura.
Uma rainha por puro incesto pode reinar ante uma civilização
Virgem Maria ou Rainha Cleópatra?
Mulher – uma deusa da sabedoria ou da guerra?


Teria Eva realmente traído Deus e Adão? Teria Capitu realmente traído Bentinho? A Bíblia Sagrada foi escrita por homens, não no sentido uniforme de ser humano, mas literalmente no gênero masculino. E Dom Casmurro, oras, tem como autor Machado de Assis, outro homem...
Tudo bem, não quero me apoiar no senso comum. Sei muito bem a diferença entre escritor e narrador. Mas, senhor leitor, a mulher, antes mesmo dos tempos mitológicos, já era descrita como cobra, o mesmo animal peçonhento que convenceu o homem a comer o fruto proibido devido à sua língua ardilosa. Se houvesse história para o nascimento do touro, diriam que foi a vaca que traiu o boi. É uma vaca mesmo, até chifres lhe pôs!
O homem é santo; a mulher é bruxa. O cristianismo é a salvação; o paganismo, a maldição. Pois bem, gostaria que se atentasse a uma história que aconteceu há um tempo. Talvez a mulher não seja tão vil assim...

Atena, este era o nome da mulher de olhos verdejantes, cabelos castanhos e inspiração grega. Numa noite costumeira, Atena fazia um trajeto perigoso para retornar para casa, mediada numa metrópole enfurecida e de tempos nefastos.
Atena estava numa fase difícil de sua vida: seu relacionamento amoroso não ia bem. Alexandre, seu noivo, passava por crises no trabalho. Ultimamente, ele agira de modo frio. Por isso, hoje ela se arrumara especialmente para ele.
A rua pela qual passava no momento permanecia como sempre: amena, misteriosa e, talvez, inquietante. A noite se encontrava obscura da luz, mas arquitetava visivelmente com as trevas. As brumas inexplicáveis transpareciam dentro de uma neblina espessa.
Seu noivo a advertia, fazendo-a prometer que não passaria por ali. Entretanto, Atena não tinha opção, pois por aquela passagem chegaria mais rapidamente a casa. Chegando, porém, não descansaria, mesmo depois de um dia extremamente exaustivo de trabalho; emanaria energia positiva ao seu amor, dando-lhe afeto e serenidade.
De repente, ela ficou trêmula – algo incomum estava acontecendo.
- Quem está aí? – ela soltou ao ar.
Sem resposta, e sentindo baforadas perto de sua nuca, começou a correr, suas botas de couro sintético provocando dores em seus delicados pés.
Sem demora, Atena ouviu vozes muito altas; possuíam timbres ásperos e exasperados. Tais pessoas trajavam vestimentas escuras que expunham medo e sofrimento, com máscaras acobertando suas faces misteriosas, um pentagrama desenhado na fronte de cada uma delas. Envolvidos pela treva rasteira, pareciam sombras acobertadas pela escuridão inebriante.
Os bandidos não demoraram a alcançá-la. Atena sentiu uma veia de sua têmpora pulsar desesperadamente. Os homens ofuscaram de uma vez toda a felicidade daquela mulher batalhadora. Seus olhos foram persuadidos a se fechar. Seu corpo foi tocado arduamente.
Agindo por instinto, Atena reagiu de maneira brutal. Ao agitar-se, sem controle, porém, foi beijada. Seus lábios estavam frios e impossibilitados de se esquivar. Nessas circunstâncias, mordeu com firmeza a boca do agressor. O homem virou-se e, num ato repentino, lançou seu braço em um soco diagonal, sua luva negra enchendo-se de plasma sanguíneo.
Ferida, Atena vociferou com todas as forças que pôde. Após o grito, um dos bandidos, o que parecia vigiar os arredores, manifestou-se. Ele correu e empurrou seu companheiro, tirando-o de cima dela. Então, ele começou a tocá-la. Os pêlos de Atena se arrepiaram à medida que o bandido debruçava suas mãos por todo o seu corpo trêmulo.
A esta altura, Atena parecia estar confusa. Teria sido uma tola por não ter seguido o conselho de Alexandre, seu noivo?
Há cerca de meio ano, os dois haviam combinado que deveriam ter um filho, para que animasse a casa, providenciando o tão esperado casamento. Contudo, a situação talvez não permitisse.
Inesperadamente, seus olhos cruzaram com os do bandido. Uma fixação deixou o clima enigmático.
- Eu falei para você não passar por aqui... – a voz do bandido soou em tom cálido.
- Alexandre?!!! – ela murmurou, tossindo e gaguejando quase que em uníssono.
Então era por isso que ele a mandara não passar por ali? Aquele homem, banhado pelo ar de insanidade, era seu amor...
Ela novamente tentou reagir; desferiu vários cortes com suas unhas manicuradas em Alexandre.
- Eu a amo tanto... – confessou ele, abaixando a voz. – Mas agora não posso parar, senão eles me matarão também...
Ele levantou um pouco sua máscara, deixando que o símbolo modelado do pentagrama apontasse para o céu noturno. Logo depois, começou a amá-la da mesma forma que fizera na noite de núpcias, no dia mais feliz e importante da vida de Atena. Aqueles carinhos, embora utilizados com uma certa violência, a comoveram por alguns instantes. Ela se arrumara com muito afinco para agradá-lo, para consagrarem o desejo de ter um filho. Só não imaginava que seria assim... sendo estuprada pelo próprio noivo e assaltada por bandidos.
Os salteadores, no entanto, se cansaram daquela desordem cujo propósito era somente de roubo. Sendo impiedosos e cruéis, os homens matavam qualquer um que saqueavam.
Ao mesmo tempo em que Alexandre puxava com violência o coque dos cabelos castanhos de Atena, arrancando-lhe alguns fios sedosos, outro bandido sacou uma pistola do seu casaco. Os saqueadores ordenaram que Alexandre a deixasse só. Inexplicavelmente, ele não queria se separar daquele corpo amado. Sentia-se de alguma forma atraído, com um sentimento que o envolvia por inteiro. Sem delongas, chutaram-no entre as costelas, de modo que rolasse pela rua.
Atena sabia que seria seu fim. Fechou novamente seus olhos, recapitulando, em relances por sua mente, as vezes em que tentara ter seu futuro filho, que seria doce e amável.
O silenciador não deixou que a arma produzisse um som estridente, mas o cheiro de pólvora se mesclou com aquele clima fúnebre. Seu olfato ainda funcionava... podia cheirar...
Atena abriu com ímpeto os olhos... Alexandre estava em cima dela, tremendo sem parar. Ele havia se sacrificado por ela... mas por quê?
O sangue jorrava do corpo de Alexandre. Ele estava de bruços sobre sua mulher, e o sangue que saiu pela sua boca mergulhou pelos lábios de Atena.
- E-eu errei... – sussurrou Alexandre. – M-mas... e-eu... te amo... M-me perdoe...
O luar da noite parecia banhar-se com a poça de sangue com a qual o corpo de Alexandre jazia. O horror de vê-lo tremer nos últimos instantes de sua vida se cravou no breu. Então, sentindo o cano do revólver pressionado contra sua testa, aceitou o abraço, o derradeiro aperto, de seu homem.
- Eu o perdôo... – declarou Atena, enquanto suas decorrentes lágrimas a acompanhavam para seu desconhecido caminho.

E agora, caro leitor? O que acha da alma feminina? Ainda considera a mulher como uma costela retirada do homem, um câncer extraído do ser humano que, ainda assim, o atormentaria e o mataria em nome de uma peste invisível chamada amor?
Talvez eu tenha me excedido. A história, na verdade, também possui uma outra versão. Vamos, então, ao outro final...

- E-eu errei... – sussurrou Alexandre. – M-mas... e-eu... te amo... M-me perdoe...
Atena olhou para o homem, envolto por sangue, jazido sobre o solo de pragas. De abrupto, ela mostrou uma de suas mãos; um revólver surgiu, um de seus dedos entrelaçado no gatillo, o cheiro de pólvora emanando ao redor.
- Fui eu que atirei, e você nem percebeu…
Alexandre ficou boquiaberto. Atena se levantou imponentemente.
- Você achou que me enganaria? Não me diga que achou o design da máscara que você usa de mais. “Simboliza o mal, o satã”, você debe ter pensado. Ah, não me faça rir. Esse símbolo originalmente faz juz à deusa romava Venus, ou seja, uma mulher… Fui eu que deixei você entrar no bando. Acompanhei seus passos sujos, me enganando, mentindo para mim todos os dias. Mas sabe do que mais, eu planejei todo esse circo. Fui a artista que ensaiou o espetáculo da sua morte. E sabe por quê? Porque você é um estéril de merda! Achou que eu não descobriria?
Com muito esforço, Alexandre arrancou sua máscara, a imagem do pentagrama lhe
caindo como uma maldição.
- A mãe-natureza deve estar puta com você. Até mais.
E Atena terminou o serviço, um sorriso débil e delicioso esboçando-se em seus lábios carnudos, como se tivesse uma grande conquista na era helenística.

Como pôde perceber, seleto leitor, embora o palco seja o mesmo, parta de uma mesma situação inicial, o clímax e o desfecho mudaram de enredo. Mas, é claro, o mais importante sou eu, o narrador! Ora personagem, ora onisciente. Que coisa, não? O foco narrativo deste conto é meu, e ponto final.
Portanto, faço-lhe um desafio. O ponto-chave desta trama reside na seguinte pregunta: o narrador-personagem é masculino ou femenino? Se está acontecendo em primeira pessoa, eu estou sendo, de certa maneira, parcial. Mesmo assim, se a primeira impressão que passei foi a de que apenas defenderia o sexo frágil, parece que muito o enganei. Dizem que a mulher é muito mais competitiva que o homem… sendo assim, eu estaria criticando a feminilidade por puro capricho meu ou, por outro lado, minha voz masculina é que, na realidade, despontou nesta história?
Tente adivinhar. Sou homem ou mulher? E aí, escolherá quem, a Medusa ou Perseu? O espectro ou a Cartomante? As mulheres são ninfas, sereias ou harpias? A resposta transpira nas linhas que já leu, mas a reflexão se delineia a partir do emaranhado de linhas que se costurarão em sua mente.
Ah, pentagrama, ajude nosso Templário Leitor! Cinco retas, cinco pontas, cinco elementos, mas uma só Grande Mãe…

Philip

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Melão ou botijão?


Estávamos em horário de almoço quando decidimos comer em um self service que fica no final da rua onde trabalhamos. Não lembro sobre o que conversávamos no caminho, mas o interessante foi quando um homem, desses que carregam um carrinho de madeira vendendo coisas, veio em nossa direção. Não lembro o que ele vendia, acho que eram limões, mas isso não importa muito; o que importa é a frase confusa que ele direcionou a uma de nós duas, não sei se foi para mim ou para ela ou para as duas. Foi literalmente isso: eita, colega, tá cheio que chega ta derramano, hen!
Alguém entendeu? Eu não.
Na opinião da minha amiga, ele estava dizendo que uma de nós estava gorda ou as duas. Fizemos uma tentativa de compreensão daquele dialeto, então chegamos à conclusão de que ele referia-se aos nossos pneuzinhos, que estavam tão cheios que derramavam por cima da calça, você concorda? Na opinião de um amigo meu, ele poderia estar se referindo aos seios. Confesso que isso me aliviou um pouco, mas infelizmente continuaremos sem saber, porque eu não tive coragem de pedir para o vendedor traduzir a frase para a norma culta ou coloquial. Penso que compreenderia as duas, porém o que ele usou é um tipo de dialeto que não faz parte da minha tribo.
Ele poderia estar nos fazendo um elogio, não sabemos, mas o motivo que nos levou a pensar instantaneamente na questão do peso está, com certeza, relacionado ao padrão de beleza imposto pela sociedade. Sim, porque somos praticamente obrigados a segui-lo se quisermos nos enquadrar nesse padrão que dita as regras da beleza, isto tanto para homens quanto para mulheres.
Acredito que, para as mulheres o peso é maior, não o do corpo, o das regras. Para sermos belas temos de ser magras, peitos e bundas quanto maiores melhores, corpo bronzeado; os cabelos atualmente mais belos são os lisos. Mas me parece que isso está começando a mudar, pois a mídia é uma das principais ditadoras dessas regras. Hoje temos uma atriz negra com os cabelos selvagens como protagonista da novela da Globo; isso pode virar moda. Infelizmente, com essa ditadura seremos eternas crianças brincando de o mestre mandou.

Carla Lucatto

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Transitoriedade Perene



Uma mulher linda e jovem vinha contornando a lago do Ibirapuera, pensando sobre o ciclo da vida: “Embora tenhamos a sorte de nascermos, vivemos, mas tudo que nasce tem o seu fim, morre... tudo está em constante movimento.”

Aquela tarde, naquele arrebol, a linda moça chegava a sentir, em sua pele suada, o fresco ciclo do vento que balançava as flores e lhe fazia pensar no banho morno, este lavaria mais um dia de cansaço e logo que saísse buscaria o fresco lençol e no seu leito repousaria consigo as lembranças de um dia fatigante.

No estacionamento do parque, como de costume, Stefany sempre doava uma moeda para um mendigo que há tempos morava ali, nas proximidades do parque. A moeda que ela entregara aquele homem, não era compaixão, era amor pela crença na teoria de que tudo que é nosso sempre acaba voltando para nós. A moeda é um objeto que não para de circular pelas mãos das pessoas efêmeras.

Aquele homem sorriu para ela e disse:
- Nada está parado, um dia vou sair daqui, que Deus dê a você a proteção que merece e retribua a benevolência.
Amargurada pelas palavras sábias do humilde homem fingiu não tê-lo escutado e saiu pensativa, rumo ao seu Audi 2009.

Dirigia devagar numa velocidade que ajudava a sonolência, não precisava prestar muita atenção, o pouco movimento da avenida permitia divagações. Entrou na Avenida Brigadeiro, passou por um bar cheio de homens “metafísicos”, horríveis, que fixaram os olhares não para o Audi e sim para Stefany, que possuía uma beleza angelical, um olhar esnobe, meigo e traiçoeiro de um brilho a enlear, claro que atrairia a atenção de qualquer homem.

Entre aqueles homens, estava o mais maduro deles, o mais sábio, aquele homem cujo nome era conhecido por todos como Vladimir, dono de uma exuberante Harley Davidson. Ele era um lobo na pele de carneiro, dono de uma beleza invejável que atrairia e trairia o olhar de qualquer mulher.

Enquanto os “metafísicos” planejavam assaltá-la, Vladimir estava “anos luz” à frente, pois, ele já marcara cada passo de Stefany, sabia para onde ia, de onde vinha, do que gostava de fazer após os passeios no parque do Ibirapuera; sondara todo ciclo histórico de sua família até a extremidade de sua árvore genealógica.

Naquele instante Vladimir percebia que era o grande dia, talvez o único momento para surpreendê-la de tal forma que mesma a antipatia da moça não conseguiria afastá-lo.

Vladimir montou em sua Harley e acompanhou de longe a perseguição.

Aqueles três homens medonhos do bar estavam atrás de Stefany, muito próximos, mas ela não percebera nada, estava na sua rua próximo do seu magnífico edifício, não tinha nenhuma alma viva naquele instante sombrio. Antes mesmo que ela guardasse o carro aqueles a surpreendeu; estagnada ficou sem nenhum movimento de reação, somente a palidez do olhar abalado dizia da sua raiva, de sua revolta, do seu ódio contra aqueles nojentos asquerosos. Um daqueles homens se aproximou do carro, fedia suor, cerveja e maconha, apontou o revólver para Stefany, gritando com sua voz ruidosa:
- Saia do carro!
Stefany saiu trêmula e os outros dois a pegaram fortemente pelo braço e sussurraram ao pé do ouvido:
- Você é a gostosa da vez, dá seu cartão e sua senha, sabemos que está na sua bolsa, dá para nós agora mesmo.

Assustada entregou tudo para os bandidos, mas o que eles não esperavam, quase todos, é que Vladimir acionara a polícia. Ele já estava no local a espera de um descuido dos ladrões, e foi assim que aconteceu. O homem que estava com a arma foi surpreendido com um golpe de Vladimir, que em seguida pegou a arma do bandido, enquanto estava desacordado, atirou para cima e os outros dois fugiram sem hesitar. A polícia chegou ao local e prendeu Vladimir, equivocadamente, Stefany se desprendeu do seu transe e gritou:
- Esse homem não tem culpa, ele me salvou das garras desses loucos, se não fosse ele, certamente, vocês não me encontrariam viva!

Atordoados com tal discurso, os policiais pediram desculpas para o herói e em seguida, prenderam o ladrão desacordado e disseram para os dois que não precisaria de testemunhas, porque era assalto à mão armada; o colocaram no camburão e foram para o seu destino.

Anteriormente aquele mesmo indivíduo havia sido preso, mas como não tinha prova suficiente para prendê-lo. Era um ciclo vicioso, prendia e soltava, mas agora os policiais estavam felizes porque aquela arma era prova suficiente para prendê-lo de uma vez por todas.

Vladimir ficou com os olhos fixos em Stefany como se quisesse dizer algo, esta se aproximou dele e deu-lhe um beijo nas proximidades da boca, como forma de agradecimento. Vladimir por sua vez abaixou rapidamente e pegou a bolsa da moça sem tirar os olhos dela e disse:
- Stefany, certo?
- Como sabe?
- Há muito tempo venho te sondando, por exemplo, dias atrás você recebeu um buque de orquídea, não foi?
- Sim.
- Ontem, você recebeu um envelope com uma carta anônima, cujas palavras descreviam um amor platônico de um admirador que faria tudo para conseguir sua admiração e como prova desse amor junto à carta continha um brasão com a árvore genealógica de sua família. Digo-lhe que somente aquele que ama busca saber e valorizar a essência da pessoa amada, não valoriza o que ela tem e sim o que ela é. Você recebeu? Abriu? Eram essas palavras? Percebo que gostou do brasão, vejo que está pendurada em sua bolsa.

Stefany admirada e contagiada por tamanha gentileza ficou a enamorá-lo com os olhos e após um minuto de silêncio sorrindo disse-lhe: - Além de ser meu herói e meu admirador? É o homem que pedi, sonhei e esperei.

Caro leitor não foi tão romântico, foi eficaz o jeito como ele a conquistou.

Passados três anos, Stefany estava grávida de nove meses. Vladimir já era presidente da empresa dela, tudo estava de acordo com seu plano sórdido; sem que ela soubesse 70% das ações da empresa já eram dele.

Stefany em uma tarde de domingo estava passeando no parque como de costume, foi ao estacionamento, mas dessa vez não encontrou o pobre homem que a havia feito pensar sobre sua hipocrisia, naquele instante lembrava que, quando criança menosprezava as pessoas e torcia que suas rivais padecessem nas mãos de homens horrendos; lembrou-se que tudo que ela desejara aconteceu consigo mesma, exceto a traição. Esse pensamento a perturbou, no entanto, Vladimir sempre foi um bom marido, companheiro, amigo, sempre a ajudou em todos os setores de sua vida. Ela nunca viu se quer um indício ou suspeita de traição. Ele era um herói, de fato, um supremo herói.

Certo dia, Vladimir atendeu um telefonema suspeito em seu escritório. O homem dizia assim: - Vladimir, já se passou três anos e você não me pagou, fiquei preso por dois anos e meio e até agora não deu nenhum parecer, quero acreditar que você não entrou em contato comigo, porque aqueles dois pilantras morreram e levaram com eles a sua memória. Mas, agora estou aqui reivindicando os meus direitos e espero ser atendido...
Vladimir ficou algum minuto inerte, pensativo...

O telefone tocou novamente, ainda apreensivo, resolveu atendê-lo. Era a enfermeira da maternidade que naquele derradeiro momento dava uma grande notícia: seu filho nasceu e sua mulher está bem, nós precisamos do senhor aqui, o convênio dela está pendente.
- Claro, vou correndo, chego aí em quinze minutos.
Ao chegar ao hospital perguntou de sua esposa e de seu filho, pagou o hospital e regularizou o convênio.
Estava subindo para o quarto da mulher quando um homem asqueroso o barrou interrogando-o: Lembra-se de mim?

Espantado, Vladimir disse:__ Lembro, Joel!!
__ Vejo que você está muito bem Vladimir, cadê o meu dinheiro? Seu salafrário. Sabe, acabei de visitar a Stefany é sua esposa, certo? Vladimir apreensivo disse:
__Joel, te pagarei, deixe minha família em paz...
Com o sangue nos olhos Joel o repreendeu: Família, seu idiota, nós éramos parceiros e você me traiu com essa vadia, passei anos preso para agora escutar isso, basta! Quero quinhentos mil reais e você terá menos de vinte e quatro horas para o pagamento da dívida, caso contrário... Já não preciso explicitar “certo, mano?” Joel encarou Vladimir e continuou a descer as escadas ao tom furioso dos passos.
Vladimir concordou passivamente e ficou por algum segundo pensativo, queria fugir de seus questionamentos; o local onde discutia com Joel era próximo do quarto de Stefany e esta escutara toda a conversa; Naquele efêmero instante o chão desabava.
Vladimir ao entrar no quarto foi expulso aos gritos estridentes de Stefany. Ele não teve chance de explicar, somente o seu olhar foi capaz de dizer a ela o quanto estava arrependido e o quanto a amava. Amargurado, saiu do quarto e desceu as escadas rapidamente, na porta do hospital, do lado de fora, havia um homem parado próximo de um Vectra que foi ao encontro de Vladimir perguntando:
__ Você aparenta ser o esposo de Stefany, você é?
Desconfiado, Vladimir respondeu pausadamente:
__ Sim, sou... Por quê?
__ Que bom, eu a socorri no parque, ela estava no chão do estacionamento, caída reclamando das dores, dizia que estava fraca e ia dar a luz. Fiquei preocupado, ela estava pálida e acabou adormecendo no carro. Consegui trazê-la a tempo para esse hospital, falei com a enfermeira e pedi para que ligasse para o senhor, peço desculpas por ter mexido nas coisas dela.
Vladimir o respondeu comovido:
__ Obrigado Senhor! A minha esposa está bem, de quanto o senhor precisa?
O Senhor do Vectra sorriu e o respondeu:
__ Não preciso de nada só a graça de Deus me basta, mas gostaria que o Senhor avisasse a sua esposa de que o homem que ela ajudou deu a volta por cima.
O homem entrou no seu Vectra e recomendou-lhe:
__ Vladimir, a vida é cheia de altos e baixos, não desista do amor, nunca desista de amar, você nunca sabe quando será chamado, talvez agora, alguns minutos, horas, quem sabe? Nunca é tarde para recomeçar.
Aquele homem misterioso deixou marcas em Vladimir , assim como havia deixado marcas em Stefany, ligou o carro e foi embora.
Vladimir entrou no seu carro e foi à igreja, no quarteirão próximo havia uma multidão na rua; Era um atropelamento, a polícia estava lá junto do corpo caído, para a surpresa de Vladimir era o seu amigo traído que estava ali, morto. Vladimir parou o carro e foi ao encontro de Joel. O celular de Vladimir tocou. Ao atendê-lo, tomou um choque, paralisado em profundo êxtase, seus olhos enchiam d’água como se estivesse perdendo a própria vida, pois acabava de receber a trágica notícia, de que sua mulher havida falecido no leito do hospital de hemorragia interna.
Ao tentar sair da cama às pressas Stefany caiu, não chamou ninguém, havia um bilhete: “Cuide de nossa filha, assim como fez comigo. Eu te perdoo”.
Passados alguns anos... Eliza e seu pai costumavam passear no parque e sempre que iam lá contornavam o lago do Ibirapuera. Eliza sempre estava com o medalhão onde quer que fosse. O medalhão trazia à memória de Vladimir o amor inefável de Stefany.


OBS: Elisa, Eliza: Variação de Elisabete. A franqueza é a marca registrada da pessoa que tem esse nome. Mesmo que às vezes lhe traga alguns problemas, sua tendência a dizer sempre o que pensa revela uma grande qualidade: o apego à verdade. Na maturidade, torna-se mais diplomática, mas continua sentindo aversão pela mentira.

Jonny William

Desabafos femininos



Mulher e drama são coisas que se atraem. Calma, amigo (a) leitor(a)! Não emito essa opinião de uma posição machista e/ou desavisada. Acumulo estórias dignas de filme de comédia ou de desenhos animados em que a bigorna sempre cai na minha cabeça, porém, percebi que esse “privilégio” não é só meu.

Ao contar meus “causos” no maior estilo Forrest Gump para algumas amigas pude constatar que o drama feminino ressoa vindo de outras representantes do sexo frágil. (frágil? Que consenso mais tolo...SEXO FORTE!)

Calça branca e menstruação adiantada, vestido ou meia calça que rasgam no caminho da balada, sapato emprestado que estoura por conta pés que incham. Isso para não falar da tempestade que cai sobre a progressiva, chefe de mau humor no dia do seu aniversário ou liquidação dos sonhos no dia em que você não tem vintém,meu bem!

Amores e desejos impossíveis, situações de vexames desprezíveis e pessoas importantes incompreensíveis são somente variações de um mesmo tema.

Mas, é preciso dizer que muitos dos nossos dramas são atraídos por nós mesmas. Engordar, pagar multa ou permanecer em relacionamentos fadados ao fracasso são coisas possíveis de se evitar.

Porém, aniquilar contratempos implicaria equilíbrio (algo não muito comum para a maioria das mulheres) e pouparia a humanidade de casos absurdamente tragicômicos e dos quais todas (nós, mulheres) temos apreendido tantas lições.

Veja só um exemplo! Imagine-se num encontro com aquele “bofe” dos sonhos de qualquer garota, lindo, inteligente, gentil ( e muito hétero,pasmem!) duas horas de papo delicioso (e duas garrafas de vinho) depois...

Roupas que se espalham por um charmoso apê de decoração inacabada, uma cama de solteiro (porque é exótico!) e você acreditando que vai rolar o melhor “sexo africano louco selvagem” (li outro dia e adorei!) quando de repente....aquele grito bizarro bem no meio da madrugada.

Ai, meu Deus! Será que a Dirce (assim que a chamo carinhosamente) tornou-se uma planta carnívora e devorou o bilau? Ou pela falta de uso desenvolveu algum líquido ácido que está dissolvendo-o? Ou ainda, estou tão fantasticamente apertada (e otimista) que ele teve orgasmos múltiplos?

Não! Esse grito não é prazer, é de dor! Muita dor! E aí me lembro do problema grave que ele tem no joelho caso sofra qualquer tipo de esforço ou porrada (mesmo a mais leve), nem preciso dizer que ele bateu o joelho na parede e sofreu dores intermináveis, e nossa noite foi para lá do Piauí. (como diz meu pai nesse dialeto incrível, aqui significa que nada rolou)

Portanto, leitor, perdoe-me, mas vou me dirigir a uma leitora em especial. Você! É você, mulher linda e poderosa, caso você gaste toda a sua grana na balada da moda (só com a entrada e sem open bar), tenha uma noite ou viagem frustrada ou se apaixone pelo livro, vestido, sapato ou homem errado (fora do orçamento ou simplesmente inatingível como o Brad Pitt,por exemplo) não se desespere! Você terá muito do que rir com as histórias que vai contar...

Thaís Renata de Lima